terça-feira, 15 de dezembro de 2009

entre os dedos



Pobres das flores

Incautas e belas

Que me caem nas mãos

Nessas mãos desastrosas

Que a beleza devora

E esfrega entre os dedos

Esfaceladas entre a boca e o nariz



Pobre das mãos que não

sabem ser delicadas

Que a tudo esfarelam

E cheias de marcas

rosáceas choram as mágoas

De um espinho



Pobre pobre das flores

Que essas mãos devoram

Pobre, mãos tão pobres

Que nunca se perdoam

Pobres que a tudo matam

e que nunca morrem



segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Da dúvida



Tenho muitas dúvidas e grande parte delas são destinadas a Deus e ao que ele deixou em suas memórias. Mas quando reflito mais um pouco acabo reconhecendo que ainda mais dúvidas eu endereço aos irmãos que desde muito antes de mim tiveram suas dúvidas e deixaram um legado de doutrinas e pensamentos. Não estou sendo ingrato, não é por rebeldia que duvido, sei muito bem quão importantes eles foram, não os desconsidero, tenho respeito, mas também tenho o direito de duvidar e pelo menos, tentar entender; trazer para dentro de mim, ou seja, compreender, as explicações que deram.

E tantas outras incertezas devo aos que ainda me rodeiam, àqueles que me resigno a escutar. Sim, sou um todo de dúvidas. Fechava os olhos e toda a vez que me dava conta era torturante conviver com essa idéia. Agora posso começar a ter um outro olhar, e a despeito de tanta inquietação dentro de mim que remói tudo que ouço, tudo que leio e teima que agora e já preciso de saber no que acreditar, em pormenores; um medo terrível já se dissipa, o medo da dúvida esvaece. Entre o desconforto e o incômodo de estar errado e a altivez e conforto de estar certo; é entre, nesse vale desabitado que chama à solidão a vida ganha densidade enquanto sob os ombros o peso se alivia.

Deste diálogo incessante presente em todo lugar da minha existência e talvez inexistência, tenho a impressão de que é impossível estar sozinho, a solidão de que acabei de falar é do tipo comunitário, interessantíssima. Uma solidão-comunidade, por que se estou só, será comigo e comigo mesmo, se acompanhado nessa solidão, comigo, comigo mesmo e com Deus. No meu caso, Deus é o que menos fala, eu sou o que mais ouço e eu mesmo o mais tagarela.

Infinitamente estranho é que todo esse universo às vezes inexiste e em tantas ocasiões é mais real do que o mundo para além das janelas dos meus olhos. Deus só é visível no mundo invisível existente dentro de mim, eu sou um universo e a fronteira não poderia ser mais frágil é a carne e sangue que engole minha alma.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009



Encantador de dores
Encanta o pranto meu
Encantador de amores
Encanta, encanta

A fração que morre e morria
A morte preferida, encanta
Tão docilmente o sorriso vazio
Meu marasmo, meu caminho

Encanta lá, a superfície rasa
Melodiosamente, encanta;
Encanta a respiração fria
E dá movimento ao rio que corria, e se ainda corre
Dar-lhe-ia o nome aspirado e festivo
De alegre e encontrado

Encanta encantador
O som parado, corriqueiro
A aridez pela qual permeio
A vida encantadora

terça-feira, 27 de outubro de 2009




abre os braços para os anos
o abraço pra acolher
pelo ouvido
a voz da compaixão
ressentindo nesse ouvido
os contos de fadas
e a vida contada
fabulosamente
de tempos e tempos atrás

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Garganta



Cantando e dando passos aos pés

Até me esvaziar por dentro

Lançar boca a fora

Uns tristes lamentos

Com rima e sem sentido

Tendo nas palavras, a cara,

A boca, os pés,

O branco dos olhos

Devagar deixando esgotar

Do buraco da garganta,

Nós, daqueles que sempre vivi

Desafinar para vida

Sem medo da face dela

Mesmo que a dela seja a minha

Minha derrota e minha imagem

A dor que é minha idade

Fecho os olhos,

Projeto a voz e,

Vivo


sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Caiu! Caiu!
Um rumor e grito se levantaram
Alvoroço esparso à beira da ruína
E olhos interrogativos, exclamações contínuas
De todas a vogais de mim saiu

Olhos impávidos meus que se despiam
De todas as vontades
Vendo ganhar o precipício
Um ego de maldades solto
Disse adeus de peito inflado
Ao meu nome que descia
Fundo e profundo no abismo

joquei no estômago da pedra
Toda maldade reunida
No ego esculpida
No meu nome estampada
Não quero esse nome
Que desgosto infunde n’alma
Quero os ares de liberto
Que um nome me furtava

sábado, 1 de agosto de 2009

Dei adeus a meu nome

Me cansei de mim mesmo, esse sentimento não é novo e muito menos exclusivo. Acaba que durante a vida sempre nos sintamos desse modo. Então me despedi do meu nome, do meu eu, e acho que posso existir sem um. Claro, alguma coisa eu vou ser, desisti é de tentar escupir um ego, poque se é eu quem esculpo, onde quero chegar, qual é o meu ideal? Eu não posso terminar essa obra, pelo motivo que não sei o que devo ser, na exatidão das formas e dinâmica de um caráter. Sempre opinava, desse jetito deve ser melhor, não mais redonto, uma maior perspectiva.. é muito cansativo. Não preciso ser mais nada por mim mesmo, e nem me preocupar com o que deveria ser. Desisti da minha vontade é isso.

domingo, 3 de maio de 2009

Para ler e esquecer

Pesares


Pesares, pesos delas;

Palavras e revoltas

Carregadas no pescoço

Medalhas vergando o corpo, enterrando a alma

Contra a vontade, sim, contra movediço fardo do julgo de querer com que mantenho os pés]

perder a vontade, também a idéia

Ter seu próprio mundo, quere-lo tanto

Embalar o amor ilusório de amar o que nasce de si

E podar dolorosamente os filhos,Pisa-los

Quando secos no chão

E amar em plenitude com o mistério da palavra incompreendida

O mundo(dos outros, a realidade capaz de me tornar areia

E que me torna esse moído

é essa rocha mais dura que eu

Mas que é isto?

A pergunta, o motivo, o mundo?

Sentido, sonho

Motivo

Trabalhosa tarefa de suportar tudo como é

Sentir dói e é só isso

E é só isso

O próximo doer

E é só isso

Outra vez tremer

terça-feira, 7 de abril de 2009

arte

arte, como não percebê-la? fui a um espetáculo de dança dia desses e não sei explicar a fascinação e alegria indiscreta que arrombou meu corpo, não podia deixar de perguntar, pra quê a arte, quem precisa dela? É estranhíssimo, e como me deleito com a arte, no caso ela motiva viver, ela contrói alegria e o sentido de tudo o que existe. Um beijo de despedida não é uma obra de arte? Aquela música que te deixa feliz, que toca em você a melodia da alegria incontida não é arte,? e não é arte o riso que se descobre escondido, que não queria aparecer, mas a musica arrasta pra fora do peito e o ar ganha a garganta a boca ri os olhos transparecem de sinceridade?

a arte pra mim é um "sonho bom" deixado cuidadosamente entre nós por alguém que sabia com toda sua sabedoria eternal que nesse imaterial inexplicável de desejos dentro de nós existe a bela oportunidade de se deixar\fazer conhecer, Ele queria que nós o conhecêssemos.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Entre palha e agulhas

Poesia e som
dor e ilusão
e o meu mundo não
pára de respirar

A um dia acordar e ver
o mundo desaparecer
O que era o dia
Já não ser
Esgotar-se a ilusão
Esvasiar-se o coração
Ver a fantasia
toda doce alegria
Inocência.....
Morrer;
pra ser eu
Doer;
pra cerscer
Chorar;
e não rir
Jamais se lembar

O passado de mim se esqueceu
aquela criança lá se perdeu
e chora sozinha
longe,
perdida em si

Eu estou me perdento
Desfalecer renascendo
Mudando sem fim
Vendo partir
A criança amarga do meu coração

(conversa feita em 16/12/07, esta aqui, como aconteceu)
As poesias não são somente sobre mim , tb são sobre o mundo que eu vejo, um mundo meio que desesperado. Encaro um tom mais triste não é só pelas minhas experiências vividas... conheço a dor, a tristeza muito bem, esse tom é um desafio. Quem lê tem o direito de se voltar contra as situações, procurar o caminho da alegria. Há muita gente que não é muito feliz nem mt triste, e a não ser que ela conheça profundamente a tristeza e o sofrimento nunca se dará conta de que a vida que levava era medíocre.
A alegria e bondade não são sentimentos superiores por acaso, isso não é simplesmente uma convenção cultural, elas são superiores por que os outros sentimentos sinalizam para elas. Do mesmo modo a tristeza é um caminho para a busca da felicidade.
A poesia que te mandei fala de crescimento. Onde nós temos que nos deixar perder para dar lugar a novas atitudes e novas responsabilidades. Quase todo crescimento envolve perda e substituição e isso não é ruim é um processo natural da vida..
Nossa! falei demais, neh?

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Júbilo

Existe um som

Um som de música

Música e melodia

Que ressoa pelo universo eterna


Existe uma música

Som que não pertence aos ouvidos

Não se ouve, mas se sabe quando canta.


Som de ferro silvando

Ruído de carne moendo

Estilhaço e trovão nos céus e na terra


Melodia de significado e memória

De ferro furando carne

De sangue golpeando o ar

De dentes cerrados trincando


Sinfonia da alma e não de matéria

Que não canta a boca, mas produz o coração


Doçura e simplicidade:

De ferro silvando

De carne moendo

De peito estrangulado

De ar apertado

De vida,

De vida,

De vida,

Dívida.


Só e somente

Eterno e eternamente:

De forças sem forças

De espinhos entrando

De ossos sem ossos

De pele roçando em madeira

De corpo se esfarelando

De retalhos humanos

De olhos gemendo

De amor

E nada,

nada mais]

Cristo

Quero ouvir a tua voz CRISTO

O grito daqueles que choram calados

Quero ouvir em tua voz

O ruído dos desesperados

Quero ter imprimida ao peito

A memória do rejeitado

Ter sua dor e sua agonia

A aflição do desamado


Quero ter olhos

Que vejam os invisíveis

E toquem suas almas perturbadas

Fita-los as feridas que ardem

Em seus corpos incendiados


Ter como pele a vergonha da carne defraudada

Escorrer das entranhas aos orifícios

O sangue negro, impuro e maculado,

Fluente torrente de devassidão

Dos olhos que molestam, da intenção que desgraça.

Ter á mesa a miséria dos não abastados

Retorcer-me convulso ao estômago absorvido

Tocar a pele do sozinho e desabrigado

Consolar as mães despedaçadas os filhos de olhos para sempre cerrados


Fazer ecoar melodias nas mentes dos surdos

Aquietar a revolta que devora a alma

Compreender a loucura dos desesperados

Dar vista aos cegos, criar voz em desalmados.


Quem pode sair ileso a um dia sobre a terra?

Aos mortos que vivem e aos que vivem mortos

Aqueles não têm história

À memória só a lembrança da dor

É terror do passado e presente

Vivo aos nossos olhos consumindo o ar de respirar

É a desesperança e desconsolo no dia futuro

Não conheceram calma e o tormento os espera

Lembra

Lembra de mim

Lembra dos olhos

Que com sublime amor ganhaste.

Lembra da festa

Que deixaste em meu coração.

Lembra do riso,

Do gargalhar de quem sonha

Atenta às mãos que alcançaste

Ao peito do que remiste

E cujo respirar anseia por Ti.


Avista a fraqueza dos meus braços

Da força preciso, daquela que tanto amo

E carrego a eterna lembrança de me pertencer.

Conheces meu nome: filho;

Conheço o teu: Pai.

Sabes-me mais do que eu mesmo nuca saberia


Exuberante flor no deserto

Raridade de exata grandeza

De águas não pouco singulares

Necessárias! Intimamente necessárias.


Olhos de toda doçura

Voz de toda imensa e celestial paz dos céus

Nome cuja medida não se aplica

Extensão do perfeito

Temor do infinito


A simplicidade te cerca

A grandeza por existir ainda agora se dobra à Tua face

Adora a Ti, engrandece-O.


Consumador dos tempos

Intento e Senhor do meu futuro

Lembra-te dos meus olhos

Lembra-te do meu respirar e riso

Da chama que deixaste ao me visitar.

Abrasa-me de consolo

Consuma-me as iniqüidades

Jamais aquieta a fome

Em tempo algum esmoreça a sede

Já não tenho palavras para dizer que te preciso